SOBRE O LIVRO "A GUERRA DOS BASTARDOS", DE ANA PAULA MAIA ---------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- PERÍODO 2007/2008

O Globo Online / Julho 2007





A guerra de Ana Paula Maia
A Guerra dos Bastardos
Ana Paula Maia
Ed. Língua Geral
R$ 34,00


Bang!Bang! - Mocinha saí com romance a tiracolo. A fumaça que sobe dos disparos e o estrago medem o calibre empunhado pela Mocinha - Lili Carabina da literatura. A agilidade narrativa, a fluência da escrita e os diálogos cortantes podem dar idéia imediata de quem são os personagens. Ana Paula Maia com sua camiseta e sua calcinha de algodão, tendo no coldre munição para vários duelos com a literatura, não arreda pé do terreno tipicamente masculino onde escolheu meter o bedelho - e sem o afrescalhamento da literatura mocinha, sem a postura barbie, nem a afetação das patricinhas que descolam de suas narinas pedras de pó e ouro.


A Guerra dos Bastardos - um chocante convite para um mundo hiper-realista, não possuí somente desgraça, existem anjos tatuados por dragões e purificados pelo fogo: Gina Trevisan. A mulher que atravessa o inferno, como um Orfeu feminino, lutando com os próprios punhos contra demônios e demonizações. Talvez esteja aí o sentido de toda a tragédia ali descrita : não há como se salvar, mesmo os personagens tendo o destino anunciado na primeira linha.


Ana Paula Maia toca com rédea curta e visita personagens locados em adjacências próximas como Edgar Wilson, que aprendeu o riscado ao sul do país, num aprendizado iniciação como todo (anti-)herói precisa para nos convencer de sua estranha humanidade. Na passarela cenas de boxe,

assassinatos e a danação dos personagens, ardendo na fogueira das palavras e sob o sol incandescente que teima em torrar as consciências.


O romance se desenrola com descrições que beiram o cinematográfico - alguns personagens parecem ter sido escritos para o cinema pela economia utilizada para compô-los, o que poderia comprometer a construção dos próprios personagens - mas, a ação parece salvá-los, e dentro do dinamismo narrativo, são levados pelas hábeis mãos da autora para desenlaces formidáveis.


Talvez só exista um pequeno deslize em todo o romance: a moral que condena uma casta baixa como se os grandes não participassem dessa degeneração - isso contribuí para uma certa virada de nariz do leitor menos ordinário, que não acredita nesses esquematismos da literatura realista,devedora de impostos ao naturalismo/realismo tão explorado pela gama de autores contemporâneos.

[Por Mariel Reis - Blog Paralelos O Globo Online]