SOBRE O LIVRO "A GUERRA DOS BASTARDOS", DE ANA PAULA MAIA ---------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- PERÍODO 2007/2008

Jornal do Brasil - Abril 2008

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PS: Errata: O livro chama-se A GUERRA DOS BASTARDOS.


Breve, numa livraria perto de você

Jovens escritores produzem trailers cinematográficos para promover lançamentos

Bolívar Torres

Quando disserem por aí que um determinado livro é "coisa de cinema", pode estar preparado para levar a afirmação ao pé da letra. Com o objetivo de incrementar a divulgação de seu primeiro romance, De cabeça baixa (Editora Guarda-chuva), o escritor Flávio Izhaki pôs no YouTube um trailer do livro – exatamente como vemos, antes de uma sessão de cinema, trailers de filmes que vão estrear em breve. Izhaki gravou dramatizações de seu livro, usando atores, trilha sonora e planos cinematográficos, como um preview desses que se vêem nas salas escuras. É um passo adiante numa prática que invadiu os mais diversos espaços audiovisuais – vários exemplos podem ser achados pela internet (experimente digitar "Trailer" e "livro" no YouTube). O trailer do romance A vingança dos bastardos (Língua Geral), de Ana Paula Maia, fez tanto sucesso que chegou a ser exibido, para valer, nos cinemas.

– Quis fazer uma encenação do romance – esclarece o carioca Izhaki. – É um trailer do mesmo jeito que se faz no cinema. Não apenas fotos ou arte de imagens. É um resumo do livro, como se fosse um curta-metragem.

O escritor diz que a realização de vídeos para divulgar livros ainda é um processo em formação. Ele acredita que sua investida no domínio envolveu uma certa dose de experimentação.

– É uma linguagem que está começando – avalia. – Então, por enquanto, todos ficam tateando.

Primeira autora brasileira a promover um livro com um trailer dramatizado, a carioca Ana Paula Maia adotou um procedimento diferente. Para divulgar A vingança dos bastardos, seu segundo romance, preferiu a técnica da fotomontagem. Realizado pela produtora Crepúsculo (ler mais no quadro abaixo), o vídeo curto, de pouco mais de um minuto, contenta-se em transpor para a tela o caráter violento do romance, que trata do universo da cultura pulp. A história, que abriga boxeadores endividados, atores pornôs decadentes, ladrões de órgãos e outros personagens saídos diretamente do submundo, ficou representada por uma sucessão de imagens de um homem num apartamento repleto poças de sangue e pedaços de corpos humanos.

– O vídeo saiu do jeito que podia sair – diz Ana. – Se usasse atores, talvez ficasse falso. Quanto mais simples, menor a chance de estragar.

Depois de chamar a atenção no YouTube, o vídeo acabou sendo exibido nas salas de Rio e de São Paulo. Mesmo assim, Ana Paula não acredita que a boa repercussão tenha alavancado as vendas do livro.

– Virou um caso de repercussão interessante – diz. – A relação do cinema com a literatura é muito próxima. Acredito que o trailer de livro é uma tendência que vai crescer cada vez mais.

De cabeça baixa, o livro de Flávio Izhaki, narra a história de Felipe, um jovem romancista desiludido. Contando com poucos recursos, o autor buscou a ajuda da cineasta Débora Pessanha, que dirigiu o vídeo com uma equipe composta por estudantes do Curso de Rádio e TV da UFRJ.

– Foi difícil resumir o livro em um vídeo de dois minutos – admite Izhaki. – O meu romance usa metalinguagem e trata de um assunto muito literário.

O maior risco, no entanto, foi dar ao leitor uma imagem pré-concebida de sua própria obra. No trailer promovido por Izhaki, os personagens literários se apresentam em carne e osso, como numa adaptação cinematográfica avant la lettre. Com isso, poderia decepcionar os leitores que preferem imaginar por conta própria as narrativas que lêem.

– A solução foi escolher atores com físico diferente da descrição dos personagens e mostrar ao espectador que aquilo era uma representação, não uma adaptação. Como se fosse aperitivo para o leitor.

[ 27/04/2008 ]