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Adeus, egotrip!
"Costumo dizer - e não é de brincadeira, ou não totalmente - que a internet vai salvar a literatura. Não como espaço para publicação ou autopublicação, mas como caixa de ressonância, arena de debates, ponto de encontro de admiradores de um determinado autor ou escola". A previsão é de Sergio Rodrigues, escritor, jornalista e autor do blog TodoProsa.Um dos mais visitados por quem busca novidades literárias online, o blog de Sérgio reflete uma mudança no perfil de uso da ferramenta: cada vez mais distantes da verborragia e confissão inicial eles suscitam acalorados debates, servem como agenda cultural, dão furos jornalísticos e ainda publicam textos inéditos.
Desde que começaram a ser criados no Brasil, entre 1999 e 2000 - quando ainda eram páginas simples sem vídeos e com poucos links e fotos - os blogs já foram taxados de diários virtuais, salvadores da democracia online facilitando o acesso à posse da palavra, espaço de experimentação e egotrips. Autores foram pinçados na teia virtual e alçados a escritores sem sequer haver escrito ou publicado em papel. Amizades literárias surgiram e foram seladas em chats e e-mails. Editores, atentos ao sucesso de comunidades do Orkut e blogs coletivos, organizaram volumes como Wunderblogs (Barracuda) e Blog de papel (Genesi).
A blogosfera se reinventa
Passada a euforia da novidade (já devidamente substituída por podcasts e vídeos online) a blogosfera sobrevive competindo com a grande imprensa e reinventando-se. E poucos parecem duvidar: merecem sua parcela de crédito pelo bom momento literário atual.
- Nunca vi tanta gente escrevendo tanto, trocando palavras, cartas e idéias - opina Marcelino Freire, autor do Eraodito. - Já ouvi vários casos de pessoas que leram o blog e foram buscar os livros que eu comento por lá.
Se antes o blog era uma ferramenta de fácil publicação tomada de assalto por novos escritores que queriam testar a recepção de seus textos, os mais acessados de hoje são aqueles que optam por conjugar informação, comentário e debate. Como o Eraodito, que contabiliza orgulhosos 300 mil acessos por mês. Além de dicas de livros, o blog funciona como agenda literária atualizada diariamente com palestras, seminários, cursos e encontros. Nesses eventos, aliás, Marcelino colhe material especial para atualizar sua página.
- Recebo e-mails de lançamentos e fofocas literárias mas posto muita coisa ouvida em mesa de bar, com a devida autorização, claro - confessa. - Já dei inclusive alguns furos, como o escritor André Laurentino que descobriu ser um dos convidados na última Flip no Eraodito.
O tom jornalístico - com uma liberdade de letra e assunto de quem não passa por edição - também faz parte da fórmula do TodoProsa.
- Cabe muita coisa no blog, desde textos ficcionais até pequenas pensatas, além, claro, de resenhas e notícias - conta Sérgio.
Diários virtuais em baixa
Com a popularidade dos cliques, os autores dos blogs começam a receber dezenas de e-mails em busca de espaço: são lançamentos de livros, comentários das obras e até mesmo originais que solicitam avaliação. Em contrapartida, os diários virtuais são cada vez mais escassos, perdidos no desinteresse de um discurso umbiguista ou deixados de lado por escritores que ganharam os livros em papel e detestam o rótulo de blogueiros. A rejeição, confessa um deles, (que pede para não ser identificado) é conhecida como "síndrome Los Hermanos": "a banda que ganhou muito dinheiro com Ana Julia mas se recusa a tocar a música nos shows".
Alguns deles viram os textos esgotarem-se das gavetas (ou das CPUs), outros cansaram de ler os comentários sobre o texto ou, como Marcelino Freire, perderam a paciência de exercitar-se no blog e "aparecer de pijama na sala dos outros". Ana Paula Maia é exceção à regra, e mantém três blogs: em dois há novelas literárias mas é no Killing Travis que Ana Paula confessa-se, misturando experiências pessoais com trechos inéditos de livros. Mas faz questão de ressaltar: lá não faz literatura.
- O blog foi lançado para que eu pudesse escrever sem compromisso após a publicação de meu romance A guerra dos bastardos - lembra. -Depois parti para os folhetins pulp. Mas na internet o leitor não influencia meus textos. Meu processo criativo está bem seguro no alto de uma torre.
Com o esvaziamento dos blogs como ferramentas de publicação de textos in progress parece ter ficado para trás também as tentativas de classificar como movimento "uma literatura blogueira". É o que defende a crítica literária Beatriz Resende.
- Ana Paula Maia, Marcelino Freire e Santiago Nazarian circulam pelos mesmos botequins do ciberespaço e fazem uma literatura completamente diferente uns dos outros - afirma. - Costumo dizer que a multiplicidade é a grande característica da produção literária contemporânea.
Se as notícias são boas no reino literário digital, ainda resta espaço para reivindicações. Beatriz acredita que a crítica deveria usar mais o espaço virtual. Marcelo Moutinho, autor de um blog que mistura samba, cinema e livros, acha que a movimentação entre tela e livrarias deveria ser mais intensa.
- Ainda há um grande hiato entre o público que nos lê na internet e o público que efetivamente compra nossos livros - constata Moutinho. - Não sei se a questão financeira pesa, mas acho que é preciso mover o público virtual para as livrarias.
[ 26/01/2008 ]
Adeus, egotrip!
"Costumo dizer - e não é de brincadeira, ou não totalmente - que a internet vai salvar a literatura. Não como espaço para publicação ou autopublicação, mas como caixa de ressonância, arena de debates, ponto de encontro de admiradores de um determinado autor ou escola". A previsão é de Sergio Rodrigues, escritor, jornalista e autor do blog TodoProsa.Um dos mais visitados por quem busca novidades literárias online, o blog de Sérgio reflete uma mudança no perfil de uso da ferramenta: cada vez mais distantes da verborragia e confissão inicial eles suscitam acalorados debates, servem como agenda cultural, dão furos jornalísticos e ainda publicam textos inéditos.
Desde que começaram a ser criados no Brasil, entre 1999 e 2000 - quando ainda eram páginas simples sem vídeos e com poucos links e fotos - os blogs já foram taxados de diários virtuais, salvadores da democracia online facilitando o acesso à posse da palavra, espaço de experimentação e egotrips. Autores foram pinçados na teia virtual e alçados a escritores sem sequer haver escrito ou publicado em papel. Amizades literárias surgiram e foram seladas em chats e e-mails. Editores, atentos ao sucesso de comunidades do Orkut e blogs coletivos, organizaram volumes como Wunderblogs (Barracuda) e Blog de papel (Genesi).
A blogosfera se reinventa
Passada a euforia da novidade (já devidamente substituída por podcasts e vídeos online) a blogosfera sobrevive competindo com a grande imprensa e reinventando-se. E poucos parecem duvidar: merecem sua parcela de crédito pelo bom momento literário atual.
- Nunca vi tanta gente escrevendo tanto, trocando palavras, cartas e idéias - opina Marcelino Freire, autor do Eraodito. - Já ouvi vários casos de pessoas que leram o blog e foram buscar os livros que eu comento por lá.
Se antes o blog era uma ferramenta de fácil publicação tomada de assalto por novos escritores que queriam testar a recepção de seus textos, os mais acessados de hoje são aqueles que optam por conjugar informação, comentário e debate. Como o Eraodito, que contabiliza orgulhosos 300 mil acessos por mês. Além de dicas de livros, o blog funciona como agenda literária atualizada diariamente com palestras, seminários, cursos e encontros. Nesses eventos, aliás, Marcelino colhe material especial para atualizar sua página.
- Recebo e-mails de lançamentos e fofocas literárias mas posto muita coisa ouvida em mesa de bar, com a devida autorização, claro - confessa. - Já dei inclusive alguns furos, como o escritor André Laurentino que descobriu ser um dos convidados na última Flip no Eraodito.
O tom jornalístico - com uma liberdade de letra e assunto de quem não passa por edição - também faz parte da fórmula do TodoProsa.
- Cabe muita coisa no blog, desde textos ficcionais até pequenas pensatas, além, claro, de resenhas e notícias - conta Sérgio.
Diários virtuais em baixa
Com a popularidade dos cliques, os autores dos blogs começam a receber dezenas de e-mails em busca de espaço: são lançamentos de livros, comentários das obras e até mesmo originais que solicitam avaliação. Em contrapartida, os diários virtuais são cada vez mais escassos, perdidos no desinteresse de um discurso umbiguista ou deixados de lado por escritores que ganharam os livros em papel e detestam o rótulo de blogueiros. A rejeição, confessa um deles, (que pede para não ser identificado) é conhecida como "síndrome Los Hermanos": "a banda que ganhou muito dinheiro com Ana Julia mas se recusa a tocar a música nos shows".
Alguns deles viram os textos esgotarem-se das gavetas (ou das CPUs), outros cansaram de ler os comentários sobre o texto ou, como Marcelino Freire, perderam a paciência de exercitar-se no blog e "aparecer de pijama na sala dos outros". Ana Paula Maia é exceção à regra, e mantém três blogs: em dois há novelas literárias mas é no Killing Travis que Ana Paula confessa-se, misturando experiências pessoais com trechos inéditos de livros. Mas faz questão de ressaltar: lá não faz literatura.
- O blog foi lançado para que eu pudesse escrever sem compromisso após a publicação de meu romance A guerra dos bastardos - lembra. -Depois parti para os folhetins pulp. Mas na internet o leitor não influencia meus textos. Meu processo criativo está bem seguro no alto de uma torre.
Com o esvaziamento dos blogs como ferramentas de publicação de textos in progress parece ter ficado para trás também as tentativas de classificar como movimento "uma literatura blogueira". É o que defende a crítica literária Beatriz Resende.
- Ana Paula Maia, Marcelino Freire e Santiago Nazarian circulam pelos mesmos botequins do ciberespaço e fazem uma literatura completamente diferente uns dos outros - afirma. - Costumo dizer que a multiplicidade é a grande característica da produção literária contemporânea.
Se as notícias são boas no reino literário digital, ainda resta espaço para reivindicações. Beatriz acredita que a crítica deveria usar mais o espaço virtual. Marcelo Moutinho, autor de um blog que mistura samba, cinema e livros, acha que a movimentação entre tela e livrarias deveria ser mais intensa.
- Ainda há um grande hiato entre o público que nos lê na internet e o público que efetivamente compra nossos livros - constata Moutinho. - Não sei se a questão financeira pesa, mas acho que é preciso mover o público virtual para as livrarias.
[ 26/01/2008 ]